Aquela cidade pacata e sem graça de duas
semanas atrás, havia desaparecido depois da misteriosa e brutal morte de Padre
Júnior. No velório do Padre, o Prefeito Germe e o Xerife
Bigode haviam proposto para todos os presentes cidadãos, o toque de
recolher às cinco da tarde, ato que – imaginavam eles - evitaria qualquer
incidente após o pôr do Sol. E se acontecesse seria fácil de identificar o
causador de tudo.
Todos da
cidade estavam com muito medo. Todos não. Havia cinco crianças que sentiram o
dever de tentar esclarecer aquele mistério do Padre Junior. Pedrinho era o mais catiço, curioso e
levado ao heroísmo. Tinha 12 anos de idade. Escutou a estrondosa galopada e os
relinchos assustadores surgir no meio da noite passada. Tentou se levantar para
ver na janela, foi impedido pela mãe que entrou desesperada
no quarto com o intuito de protegê-lo.
Instinto de mãe. Perguntou á ela o que era aquilo, e não teve resposta.
Pedrinho não conseguiu dormir aquela noite de curiosidade...
Ao amanhecer, todos da cidade se reuniam na
porta da igreja, não cabia mais gente lá dentro. Também não deixaram nenhuma
criança entrar. Elas foram trancadas em suas casas naquele dia. Pedrinho
conseguiu sair por seu esconderijo secreto, um calabouço que haviam descoberto brincando de
esconde-esconde com seus amigos.
A casa
onde mora é enorme, herança de seu avô mais antigo. Quando se mudou tinha
apenas três anos, seus pais comentaram de haver muitos mitos sobre a residência
da família. Pedrinho encontrava objetos estranhos espalhados por lá quando
brincava sozinho, entre eles; uma máscaras de Infâmia, um Tean Zu e a Aranha Espanhola (objetos de tortura
usados em escravos), um dia
quando chamou seus melhores amigos para brincar descobriram um
calabouço. Soube posteriormente que seu avô criava escravos.
O local escuro e úmido seguia por um corredor
medonho pouco iluminado pela luz do Sol, luz esta que vinha pelas pequenas
grades no ponto alto da parede de pedra. Foi Enzo quem encontrou um fecho
minúsculo dentro da lareira do porão. Abrindo e tirando as lascas grandes
encontrou o corredor que acreditaram de início
ser assombrado. Corredor este que virou reuniões de brincadeiras entre eles.
Ao fugir de casa para ver o que acontecia na
Igreja Pedrinho viu enormes
pegadas de ferraduras no chão seguindo em direção ao alvoroço de gente na porta
da Igreja. Se esquivou de alguns bêbados e entrou na pequena multidão. Próximo
á porta estava uma velha mendiga de roupas largas e sujas, com bolas grandes de
linhas de lã e fazendo crochê avidamente.
Pedro chegou no instante em que alguns velhos
iam rumo a velha como se fosse agredi-la, neste instante a velha já estava com
uma enorme agulha apontada para eles dizendo
alto "Não querem que eu conte?! Vocês não
acreditaram que um dia esta cidade poderia tornar suas maldições vivas
novamente, né?! A Mula é o primeiro sinal de que muitas estão por vir..."
Pedrinho não aguenta a ânsia e implora alto: –Conte-nos
o que vai acontecer. Por favor. "Eu não posso dizer mais que isto
meu pequeno garoto. Se ainda querem saber, perguntem ao mais velho homem de
Manga-Chata. Ele lhes contará tudo. Mais cuidado! Estas estradas estão mais
negras que os
olhos de Romãozinho..."
Mais tarde no velório de Padre Júnior,
Pedrinho encontra seus quatro amigos. Enzo, Adrian, Ana
Clara e Bernardo. E conta tudo o que ouvira. -Esta
velha é maluca! - exclama Enzo o mais
velho de quatorze anos. - Vamos atrás dela então, hora... -Ana Clara intervém- Nossos pais não vão falar nada
pra nós. - O que ela quis dizer com "Estradas mais negras que os olhos de Romãozinho?" Indagou
Adrian. Meus pais não vão deixar eu sair de casa... -resmunga Bernardo o mais novo. - Sua
mãe ficou muda de choque Bernardo, nem vai falar com você. Nem
gritar...-ironizou Ana Clara. Todos riram baixo para não chamar atenção no
velório. -Então está decidido. Vamos tentar saber de algo daqui primeiro,
depois de amanhã vamos até Manga-Chata. - disse
Enzo convicto. Xerife Bigode
chama o Prefeito
Germe e anuncia o
Toque de recolher as cinco da tarde. As crianças somem do velório.
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Douglas B.C.
(06/05/2015)
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